Naquele trecho de estrada, ainda
que existam o gorjear e o farfalhar, haverá sempre o silêncio. O silêncio no
meio do caminho. O canto, tanto, tornou-se encanto. Vozes se calaram,
subitamente, como que ao fim de uma sinfonia. Uma sinfonia de adeus. Cordas e
sopros silenciaram desafinadamente. Uma ópera triste. Uma tragédia anunciada.
Uma ária lúgubre. Uma marcha fúnebre. A BR 101 não foi uma boa regente.
John Donne nos lembra de que
ninguém é uma ilha. Hemingway nos ensina por quem os sinos dobram. A morte de
qualquer ser é no fundo a morte de parte de cada um de nós. O recente acidente
com vítimas fatais de um grupo musical de Domingos Martins levou um pouco de
cada um de nós. E deixou uma reflexão incontornável: onde erramos? É certo que
a tendência é culpar a não duplicação da rodovia. Não conheço quem seja contra
essa ideia. Significa melhores condições de segurança no trânsito, seja a
lazer, seja a trabalho. Cláusulas contratuais que a exijam devem ser cobradas e
demandadas. Punições legais podem ser adotadas. Mas, a consternação, em
situações assim, pode superar a constatação.
Por exemplo, que nem sempre as
pessoas respeitam leis de transito e de transporte de cargas. Velocidades
incompatíveis com traçados rodoviários e inadequados procedimentos para
transporte de cargas, especialmente as pesadas, acontecem com muita frequência.
Não havendo uma autoconscientização desse respeito, importantíssimo por colocar
a vida de terceiros em risco, o ente público tem que gastar enormes quantias
com uma fiscalização intensa, nem sempre suficiente. Não tenho aqui a pretensão
de me referir ao acidente ocorrido, mas sim de me referir a um comportamento
social generalizado. Há instâncias específicas para qualquer menção de juízo.
Até porque nada recuperará o
tempo esfacelado. Os amores silenciados, as harmonias desfeitas, os arranjos
não ensaiados e os compassos não cronometrados. O tempo não desafina. Segue uma
linha melódica composta por um Ser Superior, um Regente celestial. No meio do
caminho ficou o eterno eco de um silencio memorial. A ressonância das batidas
dos corações partidos. Só nos resta recolher a alegria daquele grupo e
distribuir com os entristecidos; os sonhos, com os céticos; as lágrimas, com os
insensíveis; os risos com os introvertidos; e as esperanças com os desiludidos.
O Brasil precisa muito mais que
duplicar suas rodovias. Nosso país precisa somar suas virtudes, multiplicar sua
autoestima e acima de tudo exponenciar um comportamento cívico que faça de cada
brasileiro um agente de mudança comportamental. Ou mais sinfonias ficarão
inacabadas.
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